QUEM SOMOS

Essa é a nossa história

Ao completar seus 28 anos de estrada, o Nuances, grupo pela livre expressão sexual, tem a alegria de celebrar com todas e todos o nosso aniversário juntamente com o jubileu da Revolta de Stonewall. Nossa trajetória de luta sempre teve como propósito a promoção da cultura da diversidade e dos direitos humanos de lésbicas, gueis, travestis e transexuais (homens e mulheres trans), pessoas não-binárias e todas as sexualidades que desafiam a heterocisnormatividade.. Sabemos que o debate é longo, pois o tema vem há séculos desafiando teses - são inúmeras teorias e interpretações nos mais variados campos do conhecimento.

O corpo físico e suas representações sociais de gênero e de desejo não se submetem aos conceitos pré-estabelecidos das teorias evolucionistas centradas nas características genéticas do corpo. Religião e ciência, até os dias de hoje, travam disputas cujas consequências recaem sobre a vida de milhares de sujeitos que perambulam com seus corpos e desejos teimando desafiar muitas destas teorias. Os comportamentos dos corpos insistem em questionar e desconstruir os conceitos acabados, sendo alguns eleitos mais "desviantes" da norma e outros mais presos a papeis sexuais impostos sobre os desejos e construções de gêneros em nossa sociedade. Essas tensões impactam diretamente sobre as representações do que é considerado em nossa sociedade como campo do masculino e do feminino.

A moral religiosa|fundamentalismo religioso, atuam sobre estes corpos, e sobretudo, aos que não se enquadram no modelo de sexualidade voltada à reprodução de modo incisivo há alguns séculos (sem esquecer que o olhar da religião já foi diferente em outros tempos): foram desumanizados os sodomitas, pederastas, uranistas e fanchonas. O rastro de intolerância que ficou parece estar, nos dias de hoje, mais forte que nunca, renovando-se mediante o velho argumento da família como provedora da moral. As diferentes representações sociais sobre o corpo, desejo e sexualidade produzem significados diferentes para cada cultura e porque não dizer para cada corpo. Considerando o processo histórico como importante fator de transformação das formas pelas quais são tratados, quando os valores são estabelecidos a partir de uma (des) razão imposta pela fé cega à consequência é a bestialização destes sujeitos, colocando-os no fogo da intolerância.

Por outro lado, houve épocas em que diversos corpos eram admirados, celebrados na arte e na política, mostrando diferentes significados. Uma grande importância do movimento LGBTT brasileiro, nestas duas últimas décadas, foi fazer com que sujeitos marginais, considerados desviantes da norma, rompessem com esta condição. Assim conquistaram, de certa forma, status de sujeitos políticos dentro do processo histórico, produzindo outras interpretações, outros sentidos, outras cores. Por conseguinte a bandeira do arco Iris hoje é inconfundível em qualquer espaço. Há vinte anos era totalmente desconhecida: essa conquista é expressiva! A existência do que hoje entendemos por sujeitos LGBTTs - letras estas que já não correspondem aos gêneros e desejos que vão irrompendo no cenário da sexualidade, vem trilhando sua própria história, através de muita luta e luto. Ocupam papel protagonista num contexto mais amplo, porque vêm mexendo e desestabilizando setores sociais que insistem na reprodução de valores que não correspondem ao que a sociedade produz como ideal|ou normal. Esta disputa está muito longe de ser superada, pois, a sexualidade hegemônica e os ideias regulatórios de gênero, precisa de sujeitos desviantes para comprovar sua pseudo normalidade. Talvez isto se explique porque a visão reducionista dos humanos está centrada na ideia que a sexualidade das pessoas, seus desejos, binarismos (entre eles) de gêneros, seriam à base de suas concepções ideológicas de caráter e comportamentos sociais.

Esta história de disputa já tinha uma longa caminhada quando o MHG, Movimento Homossexual Gaúcho surgiu no dia 07 de abril de 1991, posteriormente mudando para Nuances, Grupo Pela Livre Orientação Sexual - Construindo Cidadania. Nós, como militantes inconformados com a exclusão social e tudo o que ela significava, já vislumbrávamos este processo de disputa por um lugar ao sol. É importante dizer que nestes 25 anos muitas coisas aconteceram, principalmente porque o nuances sempre teve uma atitude inquieta e postura inconformada com a norma e o status quo, atrevendo-se a usar a margem para questionar o poder da norma. Nós utilizamos o que envergonha o senso comum como questionamento para nos empoderar. Temas como liberdade do uso do corpo, sexualidade e prostituição sempre estiveram no centro de nossas ações. Mantemo-nos sempre atentos ao conjunto de questões sociais em nossas posições políticas, anuançando aprofundamentos mediante questões como, classe social, gênero e raça.

Temos consciência de que aqui no Rio Grande do Sul, inseridos|as no panorama brasileiro, desbravamos e construímos um processo de disputa que possibilitou-nos um protagonismo político. A visibilidade afirmativa, sem vitimização, possibilitando discernir as discriminações e violências numa perspectiva política foram, sem dúvida, algumas de nossas marcas. Não podemos deixar de reconhecer que esta trajetória também foi marcada por conflitos, tanto internos como externos, o que também acabou se constituindo parte de nossa identidade. A diversidade do universo LGBTT do país atraiu muitos adeptos e muitos deles com posições distintas. Surgiram muitos desafetos. Mas apesar das mazelas também colhemos muitos frutos. O Nuances, diferentemente de várias ONGs do país, sempre foi arredio à lógica de institucionalização, acreditando num trabalho horizontal. A entidade nunca se preocupou em criar núcleos ou departamentos profissionais. Enquanto ONG, nunca nos colocamos como empresa preocupada com a arrecadação de fundos, pois o lado financeiro é o suporte (e não objetivo) de nossos projetos. A primeira direção formal tardou mais de três anos para se formalizar, e isto está conectado à própria discussão interna do grupo. Em toda a trajetória do nuances seus militantes tiveram a perspectiva de priorizar a atuação política junto à sociedade ao invés da relação umbilical com o Estado. Possuir autonomia política sempre foi uma questão fundamental para nós. A teoria queer, hoje estudada como disciplina, traz visibilidade acadêmica para demandas que já estavam presentes na prática da militância do Nuances. Nossa linguagem direta, associada a imagens provocativas, foram alimento para nossa rebeldia: ironia, alegria com comprometimento e responsabilidade com os temas sempre fizeram parte do nosso repertório, fugindo dos discursos chorosos e rancorosos.

Temos claro que para construirmos outra sociedade precisamos romper com muitas amarras que estão em nossos corpos e mentes, mas isto pode ser feito com prazer e divertimento, enfrentando as agruras do dia a dia, dando outros significados a forma de fazer política. Nestas construções e desconstruções destes 28 anos de estrada, realizamos inúmeras parcerias que foram fundamentais para nosso trabalho. A presente comemoração é igualmente uma forma de agradecimento e reconhecimento a todas e todos que contribuíram com essa história, pois tem um significado muito importante para nossas vidas - afinal, dedicamos boa parte dela a esta caminhada. Agradecidos com as colaborações das entidades da sociedade civil e do Estado, e de pessoas que acompanharam nossa trajetória, dividimos esse momento que não é somente de celebração, mas também de resistência.

Um grande abraço a todas,

Célio Golin

Militante e um dos fundadores do Nuances




Colabore com o nuances

Apoie a nossa causa

 

© 2019 Grupo nuances | Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora